Nos últimos anos, o cenário económico na Europa e em Portugal foi profundamente marcado por eventos inesperados e de grande impacto. Desde a pandemia de COVID-19, em 2020, até à guerra na Ucrânia, em 2022, esses fatores impulsionaram mudanças significativas na inflação e nas taxas de juros, afetando diretamente a vida das famílias e empresas. Neste artigo, analisaremos o percurso da inflação na Europa, com foco em Portugal, e o papel da Euribor, entre 2020 e 2024.
O Impacto da Pandemia de COVID-19 (2020-2021)
O ano de 2020 foi dominado pela pandemia de COVID-19, que mergulhou a economia mundial numa recessão profunda. Na Europa, as medidas de confinamento, a paragem abrupta das cadeias de produção e o colapso da procura resultaram numa queda acentuada da inflação. De acordo com o Banco de Portugal, a inflação em 2020 ficou abaixo de 0,5%, refletindo o impacto económico da crise sanitária. O Banco Central Europeu (BCE) manteve a política de estímulos monetários, mantendo as taxas de juro em níveis historicamente baixos, o que também manteve a Euribor em valores negativos.
2021: Recuperação Económica e Pressões Inflacionárias
Em 2021, com a distribuição das vacinas e o relaxamento das medidas de confinamento, a economia europeia iniciou uma recuperação. No entanto, a recuperação foi acompanhada por um aumento da inflação. A crise de fornecimento global, devido à escassez de componentes, dificuldades logísticas e o aumento da procura, levou a uma subida de preços em várias categorias, como alimentos e energia. Em Portugal, a inflação subiu gradualmente para cerca de 2%, de acordo com o Observador.
A Euribor, no entanto, manteve-se em níveis negativos durante grande parte de 2021, refletindo a política acomodatícia do BCE, que ainda não havia adotado uma postura mais agressiva contra a inflação.
2022: A Guerra na Ucrânia e o Disparo da Inflação
O ano de 2022 foi o ponto de viragem no percurso inflacionário. A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, desencadeou uma crise energética sem precedentes. A Europa, altamente dependente do gás russo, viu os preços da energia subirem vertiginosamente, o que se refletiu diretamente na inflação. Em Portugal, a inflação ultrapassou os 10% no final de 2022, o valor mais alto em 30 anos, de acordo com o Banco de Portugal e o Expresso.
A Euribor, que até então estava em níveis historicamente baixos, começou a subir rapidamente, à medida que o BCE se viu forçado a adotar uma política de aumentos agressivos nas taxas de juro para conter a escalada dos preços. A Euribor a 12 meses passou de valores negativos no início de 2022 para mais de 2% até ao final do ano, o que teve um impacto direto nos créditos à habitação em Portugal, pressionando as prestações mensais das famílias.
2023: Controle da Inflação e Aumento das Taxas de Juro
Em 2023, a inflação na Europa começou a mostrar sinais de desaceleração, mas ainda se manteve elevada. Em Portugal, a inflação recuou para valores entre 6% e 7%, de acordo com o Banco de Portugal, à medida que os preços da energia estabilizaram, embora ainda se mantivessem elevados. A política monetária restritiva do BCE continuou a elevar a Euribor, que em 2023 atingiu mais de 3% na taxa a 12 meses, o que agravou o custo do crédito e dificultou a vida das famílias com créditos à habitação variáveis.
O Observador relata que muitas famílias portuguesas viram suas prestações subir mais de 30% em relação ao início do ano, levando a um aumento significativo da pressão financeira. O BCE continuou a subir as taxas de juros ao longo de 2023, com o objetivo de trazer a inflação de volta à meta de 2%, embora isso tenha gerado preocupações sobre os efeitos secundários, como uma possível recessão na Zona Euro.
Perspetivas para 2024
Olhando para 2024, espera-se que a inflação continue a desacelerar, com o BCE projetando que a inflação na Zona Euro possa voltar para perto dos 3%. No entanto, o impacto da política monetária rigorosa ainda será sentido, com a Euribor a manter-se em níveis elevados, possivelmente estabilizando acima dos 3%, de acordo com previsões dos analistas económicos.
Para as famílias portuguesas, o desafio será continuar a lidar com prestações mais altas dos créditos à habitação, especialmente à medida que as condições de crédito se tornam mais restritivas. O Expresso destaca que o cenário para 2024 será marcado por um ajuste gradual no mercado financeiro, com a esperança de que a inflação possa ser controlada sem comprometer excessivamente o crescimento económico.
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